ONOVOLAB e Cardinali: a História da parceria

O ONOVOLAB é difícil de definir, devido à sua versatilidade. Nasceu como um centro de inovação através da criatividade de três sócios paulistanos: Leandro Palmieri, Anderson e David Ruiz. 

Um hub de startups, que gera um ecossistema com mais de 50 empresas. Um centro de inovação corporativa e atração de talentos.

Essa era uma demanda que São Carlos sempre teve, que via boa parte dos profissionais formados nas universidades da cidade irem embora por não encontrarem aqui o ambiente necessário para o desenvolvimento de suas ideias. 

Além das startups, grandes empresas como Roche, Elo, Mapfre, Philip Morris, Electrolux e Ambev perceberam o potencial do ONOVOLAB como celeiro de ideias, ambiente de inovação e trabalho e vieram junto com eles nesse empreendimento.

O ONOVOLAB chegou em São Carlos de maneira casual, mas o apoio da Cardinali foi fundamental para que os “malucos” que o criaram cravassem sua bandeira na antiga fábrica de tecidos junto à estação ferroviária. 

Para contar essa história e como a Imobiliária Cardinali ajudou nessa conquista para São carlos, juntamos Leandro Palmieri (ONOVOLAB), Matheus Pitta da Cardinali e Flávio Fratucci e Maria Bortolozzi (growwW).

Por que o ONOVOLAB foi parar em São Carlos?

Leandro: O custo São Paulo seria inviável para o início do ONOVOLAB. Então quando 

estamos falando de uma relação custo-benefício, mais qualidade de vida, não ter os problemas das grandes metrópoles, o interior é a melhor alternativa nos dias de hoje sem sombra de dúvidas.

E a gente vê isso acontecendo na prática.

E como começou tudo isso? Você disse que procurou 40 espaços em São Paulo…

Leandro: Foi isso mesmo, vimos 40 espaços em São Paulo.

Eu e o Anderson nos conhecemos e trabalhamos juntos há 12 anos.

Nos conhecemos atuando em áreas de marketing de empresas de tecnologia. Criamos uma afinidade absurda e decidimos então abrir uma agência de comunicação especializada em empresas de tecnologia. 

Pegamos o começo do “boom” das redes sociais, ainda quando o Orkut estava em alta e todas as empresas duvidavam do poder dessas plataformas. Vimos a explosão do Facebook, Twitter e outras redes sociais e começamos a fazer o trabalho de gestão de comunidades para empresas. Mas no início as empresas achavam que redes sociais “eram coisa de moleque” como ouvimos inúmeras vezes e que isso não ia pegar, mas aconteceu o contrário. 

Fizemos isso por alguns anos até que em 2012 surgiu a oportunidade de criar a edição de um evento chamado “Social Media Day”, criado por um respeitado portal de tecnologia chamado Mashable.com. Realizamos a primeira edição em São Paulo com o objetivo de promover o nosso trabalho enquanto agência de comunicação especializada em redes sociais. 

A edição do Social Media Day São Paulo organizada por nós foi a maior do mundo. Naquele ano foram 1.500 eventos espalhados ao redor do globo acontecendo de forma simultânea. 

Nos anos seguintes o evento cresceu muito e sua última edição organizada por nós aconteceu no Expo Center Norte em São Paulo. Esse evento trouxe muita experiência e um certo prejuízo financeiro, afinal praticamente pagamos para fazê-lo. Até o ano passado estávamos pagando a conta deste evento.

Em 2012 descobrimos um portal de tecnologia e inovação da Europa, o thenextweb.com. Eles organizam anualmente uma conferência em Amsterdam. Vimos esse evento e ficamos loucos para trazê-lo ao Brasil. 

Foi um trabalho enorme para convencer os fundadores do The Next Web a realizar o evento no Brasil. A primeira edição da versão brasileira foi praticamente o primeiro evento Internacional de Startups e Empreendedorismo do Brasil 

Realizamos 3 edições do The Next Web em 2012, 2013 e 2014, mas por conta da Copa do Mundo o custo de produção dos eventos começaram a ficar inviáveis e decidimos parar de produzi-lo. 

Nessa época produzimos eventos para empresas como Amazon.com e diversas empresas de tecnologia, inclusive fora do Brasil.

Com a crise de 2015 que culminou no impeachment, sentimos na veia os problemas econômicos. Nossos clientes pausaram todos os contratos que tinhamos na época e ninguém sabia o que iria acontecer, não muito diferente do momento atual. 

Passamos o ano de 2015 inteiro praticamente sem receber de nossos clientes, mas seguindo com uma operação muito reduzida. 

2016 chegou e nós já estávamos mentalmente e economicamente esgotados, foi quando decidimos no final do ano fechar a nossa empresa e repensar a nossa vida profissional. 

E como foi esse recomeço para vocês?

Estávamos mentalmente desgastados dos últimos anos. O nosso negócio não ia bem, tinhamos muitos desafios financeiros tanto na pessoa física quanto na jurídica. Em dezembro de 2016 baixamos as portas e ficamos com uma dívida de 300 mil reais.

Lembro que tiramos uns dias no final de 2016 para repensar e decidir o que faríamos em 2017. Combinamos de nos reencontrar em Janeiro de 2017 na Campus Party, evento que reúne nerds, entusiastas por tecnologia e que acontece há muitos anos em São Paulo.

Nos reencontramos eu, o Anderson e o David. Estávamos numa madrugada na Campus e o evento estava lotado, bombando. A Campus Party é um evento que reúne os “outliers”, pessoas fora da curva e gente que pensa fora da caixa.

Vimos muita gente autodidata, que não se encaixava no perfil do mercado que naquela época ainda exigia diploma universitário para contratar talentos. Ficamos com a pulga atrás da orelha conversando com alguns jovens.

Foi daí que surgiu o insight “E se fizermos um evento como esse 365 dias por ano?”

Nós não sabíamos o que seria isso de fato. Nós não sabíamos que isso se tornaria num centro de inovação. Nós apenas tínhamos o desejo de criar ao legal para esse público. Nós não tínhamos nem dinheiro para recomeçar.

Estávamos quebrados. Brincávamos que éramos clientes “private” do Serasa (risos), mas como empreendedores, que muitas vezes não mede os riscos, resolvemos empreender novamente e começar uma nova jornada.

Nessa época eu tinha 2 crianças pequenas e o Anderson também. Quando saímos da Campus Party com o espírito renovado para empreender e com um insight que poderia se tornar um negócio, voltamos para casa e contamos para nossas esposas que iriamos começar a jornada empreendedora novamente. Foi desesperador para elas, mas recebemos todo o apoio, apesar de todas as dificuldades.

À partir daí começamos a desenhar o nosso plano, que mais tarde se tornou no ONOVOLAB. Os primeiros meses foram terríveis, ao ponto de que tivemos que ganhar dinheiro de outras formas enquanto construímos o nosso novo sonho.

Durante o dia fazíamos reuniões em grandes empresas de tecnologia e durante a madrugada eu trabalhava como motorista de Uber para fazer algum dinheiro. Nessa época eu tinha um Corsa Classic sem ar condicionado. A Monica, minha esposa fazia bolos e aos finais de semana eu ajudava ela levando para vender em portas de salões de beleza no bairro onde morávamos em São Paulo.

Era o céu e o inferno ao mesmo tempo. Durante o dia eu ía com o Anderson em empresas como Facebook, Google, falando de inovação e a noite eu era o motorista de Uber que viajava da Faria Lima para Osasco e em muitos lugares periféricos deixar passageiros.

De nós três, o David era o único que seguiu a carreira corporativa. Ele trabalhava em uma instituição financeira e em Abril de 2017 a empresa mandou ele participar do F8, evento promovido pelo Facebook no Vale do Sílicio. 

Foi neste evento que ele conheceu dois empreendedores de São Carlos. 

Victor Stabile é fundador da Liber Capital, uma startup hoje muito bem sucedida e que nasceu em São Carlos e o Thiago Cristof é o ícone do Sancahub, movimento de empreendedorismo e inovação da cidade. O David os conheceu lá durante o evento e criou uma grande afinidade e acabou apresentando a ideia do ONOVOLAB para eles.

Nessa época o ONOVOLAB não passava de uma mera apresentação de power point. Eu e o Anderson peregrinamos por São Paulo olhando diferentes espaços físicos tentando imaginar como seria o Centro de Inovação.

Nós imaginávamos um espaço democrático e acessível. Em São Paulo isso é muito difícil por conta dos desafios de mobilidade urbana que a cidade oferece.

Assim que o David voltou ao Brasil do evento do Facebook, ele convidou eu e o Anderson para visitar São Carlos. Ele iria fazer uma visita presencial ao Victor Stabile e o Thiago Cristof e insistiu para que viéssemos juntos, pois no tempo de estrada teríamos a oportunidade de colocar todos os assuntos em dia.

Numa sexta-feira logo cedo nos encontramos numa padaria em São Paulo e viemos junto com o David para São Carlos.

Sem expectativa alguma, conhecemos o Victor e o Thiago que foram extremamente receptivos e ao invés de fazer uma reunião com o David levaram a gente para conhecer um pouco do ecossistema de São Carlos.

Naquele dia, visitamos a USP a UFSCar e algumas startups que já estavam ganhando tração. Saímos no final do dia totalmente pilhados de São Carlos, pensando numa remota possibilidade de fazer algo aqui.

E o que fizeram após essa visita?

Leandro: Eu e o Anderson ficamos intrigados com São Carlos. Trabalhamos juntos há 12 anos e sabemos o que outro pensa somente pelo olhar. Perecebemos que aqui na cidade havia algo muito diferente do que já vimos em outros lugares.

Na semana seguinte decidimos voltar sozinhos para São Carlos e agendamos uma série de reuniões com outras pessoas e empresas para ter certeza do potencial da cidade.

O Victor e o Thiago Cristof sabiam que estávamos voltando para a cidade para falar com outras pessoas e foi numa dessas vindas que o Thiago publicou em um grupo de Whatsapp do Sancahub que dois caras de São Paulo montariam aqui um grande centro de inovação.

Nós não tínhamos nem como viabilizar um negócio aqui, mas a notícia já havia se espalhado entre os empreendedores da cidade.

Cardinali: Quem me pediu para procurá-los foi um amigo meu. Ele me disse: “tem uns amigos meus que estão vindo para cá e precisando de ajuda para achar um imóvel para locação”.

E você não faz locação, certo?

Cardinali: Pois é, mas mandei uma mensagem para o Anderson no mesmo dia. Ele me disse: “Visitamos São Carlos e temos a ideia de fazer um Centro de Inovação. Gostamos de um lugar que vimos na cidade”

Leandro: O primeiro prédio que gostamos foi o da Clube, o prédio da antena. Achamos esse prédio muito louco e ficamos com ele em mente.

Cardinali: Liguei para o proprietário, expliquei e ele achou que eu era louca: “Eles vêm para cá vamos conversar. Não dá para ser esses valores, mas precisamos pelo menos começar a conversar para ter algo no futuro, e você tem que ajudar”. Ele desligou o telefone, não fazia mesmo sentido. 

Quando visitamos São Carlos, passamos muito em frente a esse prédio e achávamos muito legal. A gente olhava no Google Earth e imaginava a antena iluminada, a localização é estratégica.

Não conhecíamos direito a cidade, achávamos que era o lugar ideal. O Anderson um dia me ligou e falou: “estou em contato com uma corretora de imóveis em São Carlos e ela disse que tem um imóvel que temos de ver”.

Cardinali: Eu e o Anderson nos falávamos direto e criamos afinidade. Ele começou a me mandar uns links de lugares em Amsterdam e em um deles pensei: “tenho o lugar”. Porém, ele mandou uma mensagem dizendo que ele não vinha mais para São Carlos. Tudo tinha dado errado.

Leandro: Não tinha investimento no projeto, não tinha nada certo, não tinha lugar, aí ficava naquela  dúvida entre São Carlos e São Paulo. Era tanta tanta incerteza que a gente ainda não sabia se iria acontecer o projeto 

Porque só tinha vontade…

Leandro: Só tinha vontade. Nessa época estávamos trabalhando home office, já não tínhamos mais escritório, igual esses tempos aí de pandemia. E como não tinha dinheiro também então não dá para ficar saindo. 

Era tanta incerteza… mas aí a Cardinali encontrou esse lugar, e um dia ela ligou e falou “eu acho que vocês precisam olhar esse lugar porque ele é interessante. É um lugar que está meio detonado. Não ligue para o aspecto, mas vale a pena vocês darem uma olhada”.

Viemos e fomos direto para a Cardinali, me lembro como fosse hoje, porque é um dia que tava assim chovendo. Foi a primeira vez que a gente pisou na Cardinali. 

Nossa, era grande, bonito… nunca tinha visto uma imobiliária tão grande. A corretora da Cardinali pegou e colocou a gente no carro dela e nos trouxe até aqui  E tava chovendo, e aí quando ela entrou dentro da fábrica estacionou o carro ali no meio do Boulevard, ali que tá cheio de terra, a gente desceu do carro, olhou um para cara do outro e falou “é aqui”.

Estava parecendo um cenário de guerra isso aqui, Parecia um campo de Paintball.

Cardinali: E detalhe: não estava para alugar. A gente veio sem saber se iriam alugar. O proprietário nem sonhava. 

Leandro: Mas foi instantâneo, pelo olhar de um para o outro já sabíamos que era aqui, tinha que ser esse lugar. E qualquer pessoa que pisasse aqui falaria “vocês são loucos”. Isso aconteceu várias vezes depois…

Cardinali: Era terra, não tinha nada.

Leandro: Era terra, não tinha telhado, não tinha piso, não estava restaurado, as paredes estavam caindo. Era brabo o negócio aqui, eu tenho várias fotos daqui, da época da primeira visita. P

or quê que a gente gostou daqui? Porque em 2012 a gente convenceu os holandeses de fazer o evento da The Next Web. E fomos para Amsterdã para ver o evento, e isso aqui remete muito a Amsterdã, isso aqui parece muito o espaço do evento que a gente trouxe, que o The Next Web fazia. 

Então criamos essa conexão muito forte com os holandeses. Pensamos que o ONOVOLAB tinha de ter um estilo de vida de empreendedor de holandês, não o cara que trabalha na pressão de São Paulo. E isso aqui era a nossa Holanda, São Carlos era a nossa Amsterdã. 

Porém, a corretora disse que imóvel não estava para locação, mas que deveríamos conversar com o proprietário, que era um sujeito bem tradicional, empresário clássico, mas disse “o ‘não’ você já tem”. Fomos até ele no mesmo dia.

Cardinali: Fomos juntos porque eu não queria ouvir o não sozinha, e foi super divertido.

Leandro: Foi para a reunião mais emblemática das nossas vidas. Entramos numa sala azul, no térreo da empresa, mesa de mármore… estávamos eu, o Anderson e a corretora esperando ele entrar na sala. Entra um senhor, super sério e diz: “Bom dia, o que vocês querem?

Cardinali: Era o Cuca, sócio do Fernando. 

Leandro: O Anderson começou a explicar quem éramos, o projeto: “Nós nos interessamos por sua fábrica, mas não temos dinheiro”. A corretora da Cardinali já tinha dito que a cinquenta por cento do não a gente já tinha… (risos). Ele ficou olhando para nossa cara, pensando algo como: “o que esses caras estão querendo?”

Cardinali: Eu pensei: “acho que a gente vai apanhar”.

Leandro: Mas ele começou a contar uma história: “eu vou contar um negócio para vocês: quando comecei fui pedir crédito em um fornecedor para a minha fábrica, que era uma fiação. E aí eles não quiseram vender mercadoria, não quiseram me dar crédito e eu não consegui comprar deles. Tudo bem, segui meu caminho, me dei bem na vida, consegui resolver minhas coisas. Eles, que me negaram crédito, quebraram e eu fui lá comprar a fábrica deles. Como não sei quem vocês são e o dinheiro hoje está na minha mão, amanhã pode estar na mão de outra pessoa, amanhã pode estar na mão de vocês eu vou dar um voto de confiança. O que vocês precisam?” 

Cardinali: E foi aqui, nesse prédio. Ele não tinha dinheiro, veio aqui e pediu mercadoria e tomou um não. Foi embora e depois voltou e comprou a fábrica. 

Leandro: Dissemos a ele que precisávamos de tempo, que iríamos conseguir dinheiro para alugar a fábrica. Precisávamos dele o tempo para firmar um contrato, pedimos três meses, uma coisa curta, mas a gente queria falar que a fábrica já era nossa, para lançar o ONOVOLAB como um um evento, com lugar e data, isso era junho de 2017, e saímos falando que abriríamos em janeiro de 2018. 

Ele nos disse “vai lá, podem falar o que vocês quiserem“.  E aí que aconteceu: o pessoal  do ecossistema da cidade se reuniu.

Cardinali: Saímos de lá, e veio a ligação (do Fernando) “quem são esses malucos que você trouxe aqui” Eu disse, vamos esperar, vamos dar um tempo, são amigos nossos “mas de onde?” Eu disse: “calma, deixa eles apresentarem o que eles querem apresentar”. 

Leandro: E aí o pessoal do ecossistema começou a se mobilizar para gente fazer esses eventos e lançar o ONOVOLAB na cidade. Eu e o Anderson voltamos para São Carlos, nos hospedamos no Ibis durante uma semana para lançar o ONOVOLAB, a Cardinali emprestou o auditório para dois eventos, e lançamos o ONOVOLAB dentro da Cardinali, e depois no auditório da Arquivei! que foi o terceiro evento.

Leandro: O kick-off foi no auditório da Cardinali. Eu lembro como se fosse hoje, a gente no quarto do hotel se preparando para ir na Cardinali e fazer uma apresentação, tinha umas 50 pessoas para ouvir o que era o ONOVOLAB e quem era gente. 

E aí olhamos um para a cara do outro e eu disse ao Anderson: “Esse negócio vai dar certo, se não a gente nunca mais vai conseguir pisar nessa cidade. Se a gente não conseguir entregar a nossa reputação em São Carlos acaba por aqui.” 

Fizemos o lançamento do ONOVOLAB: “O Onovolab vai ser inaugurado no dia 18 de Janeiro de 2018”. E não tinha nada, tinha 0. Arbitramos uma data, definimos o local, era o nosso foco, a antiga fábrica de tecidos e contamos a todos qual seria a dinâmica desse espaço. 

Era um PowerPoint. Acho que todo mundo ficou pensando “meu, quem são esses caras? Na fábrica de tecidos, aquele negócio velho lá, no centro antigo, com que dinheiro?”

Cardinali: E o são-carlense também não olhava aqui com bons olhos. Era a fábrica parada, que caiu um muro.Tinha acabado de desativar a Faber aqui na frente.

Leandro: Mas creio que isso gerava esperança “os caras querem fazer um negócio legal”.

E você tinha ao lado essas pessoas bacanas como o Victor e o Thiago, que eram seus correligionários. Vocês chegaram mas se cercaram de gente boa, competente e principalmente eram pessoas que o  ecossistema já admirava. Isso ajudou muito, não?

Cardinali: E eles vieram com uma ideia muito diferente do que a gente tinha, algo que todo mundo daqui sempre quis que os talentos de São Carlos ficassem em São Carlos e a única porta de entrada eram eles.

Leandro: É, a gente veio no primeiro SancaHub. Nem morávamos aqui ainda. Viemos aquele dia só para planejamento E naquela semana fizemos três eventos, falamos do ONOVOLAB a umas 400 pessoas, visitamos várias empresas aqui e ativamos a bomba-relógio. 

Tínhamos de fazer o negócio acontecer. Voltamos para São Paulo com a necessidade de vender a ideia. Montamos uma apresentação, falávamos que tínhamos o lugar, que dia 18 de janeiro era a inauguração. E ao mesmo tempo em que tínhamos de fazer o trabalho comercial, de bater lata para tentar levantar o dinheiro, tínhamos de ficar junto à corretora administrando as expectativas do Fernando, por que isso criou também uma expectativa nele.

Cardinali: E eu lidava com a insegurança de um dia o Fernando acordar e me falar: “ó, deu né?” Não deu mais, acabou, tchau.”. Mas se tem um cara que presta atenção em boas ideias é o Fernando, que não chegou onde chegou do nada. Ele chegou porque ele olha à frente e teve a certeza desde o primeiro dia que daria certo, mesmo os chamando de malucos Ele sabia que ali tinha algo por trás, consistente.

Leandro: Começou o trabalho de vendas, formatamos o material inicial do ONOVOLAB, víamos vender cota de patrocínio para apoiar o espaço e todas as empresas diziam: “ah, no interior eu não vou apoiar. Se for em São Paulo eu apoio, no interior eu não apoio”. 

Ouvimos muitos “nãos”, sentíamos um preconceito absurdo quando falávamos do interior. A gente tinha que vender São Carlos, e não era fácil vender apesar da USP, da Federal, da questão dos PhDs por habitantes, existia esse preconceito. 

Mas estávamos convictos de que daria certo. Em outubro, eu e o Anderson sentamos para conversar e decidimos nos mudar para São Carlos. O sentimento era de que as coisas só aconteceriam de verdade se nos mudássemos para cá, porque estávamos comprometidos até o pescoço. O Anderson pediu para a corretora e a Cardinali procurassem casa.

Cardinali: Mas eles vieram com a cara e coragem, ainda não tinha nada. Tinha até um arquiteto que vinha e que não vinha. .. E tinha que estar aqui dentro, para olhar e saber o que iria acontecer. E as esposas deles são 90% do sucesso, porque seguraram na mão, trouxeram as crianças todas pequenininhas e com a cara e com a coragem mudaram para cá.

Leandro: E pensamos também que mudar para São Carlos era para que o Fernando visse que era algo sério, não era só um negócio de boca. Não estamos conseguindo levantar o dinheiro em São Paulo e estamos distantes. Assim, perdermos a fábrica era questão de tempo.

Cardinali: Vocês também não poderiam desistir, criaram algo na cabeça de Fernando que deu liga. O Fernando todas as segundas-feiras me ligava perguntando para saber como é que estava o processo e eu falava que estava tudo bem, tudo em ordem.

Leandro: E aí com a ajuda da Cardinali o Anderson conseguiu alugar a casa e não foi fácil porque… nome sujo, todas todas as questões financeiras… 

Mas conseguimos casa, e aí o Victor Bermudes tinha um apartamento vazio, alugou um apartamento da mãe dele para mim, de boca, assim fiquei um ano e meio sem contrato lá. 

O Anderson mudou na última semana de outubro, eu me mudei no dia 02/09 para cá, minha esposa um dia antes, veio dentro do caminhão com a mudança porque não tínhamos grana. 

No dia seguinte vim com as crianças e o cachorro e meu carro lotado. Até me emociono. foi uma coisa assustadora. Minha família não estava entendendo porque estávamos vindo para o interior, para São Carlos. Achavam que estávamos loucos de mudar para o interior ou que estávamos fugindo 

A família sabia dos problemas que estávamos vivendo, que a gente nem conseguia se sustentar direito e resolvemos mudar para São Carlos da noite para o dia sem explicar. 

Pensamos “vamos fazer e depois eles vão ver esse negócio pronto”. Começou uma desconfiança na família: eles estão fugindo de São Paulo, fizeram uma burrada e estão indo embora para fugir de alguma bomba. E sem grana. Como o Davi era o único que trabalhava numa empresa e tinha salário, ele nos mandava dinheiro pouquinho de dinheiro para cada um,  nos sustentando. 

Ligamos para ele: “Davi preciso de 200 reais, manda aí para gente?” E ele mandava, esse era o lado legal da sociedade, da parceria. Nisso, o Thiago Christof e o Vitor Stábile nos emprestaram o escritório deles, e ali montamos uma base com duas mesinhas, e ficávamos o dia inteiro fazendo ligação e prospectando empresa.  

Até que um dia eu mandei uma mensagem no Linkedin para alguém da Roche,  e nos chamaram para algumas reuniões, e conseguimos vender para a Roche. 

Isso já era novembro de 2017, não tinha nada certo, com o deadline ali em Janeiro para inaugurar e aí a Elo também apareceu. As primeiras apresentações do Onovolab eram fotos de escombros, eram fotos do espaço todo destruído e dizendo na apresentação que esses escombros seriam o maior centro de inovação do Brasil, com 21 mil metros quadrados. 

Então o pessoal olhava aqui “como é que vai ser um centro de inovação um galpão destelhado, na terra daqui dois meses? Mas aí tanto a Elo quanto a Roche, nos disseram que tinham verbas e que acabaria o ano fiscal, e era dinheiro que iria expirar.

Como eles tinham recebido para nosso espaço, fizeram uma aposta e compraram nosso projeto. Recebemos o dinheiro em novembro e aí foi que conseguimos enfim firmar o contrato do primeiro galpão, que era menorzinho, mais barato. 

A obra começou no dia 18/12 e inauguramos no dia 29 de janeiro, com atraso de 11 dias, mas todo mundo vinha aqui antes da hora, porque isso despertou a atenção de muita gente na cidade. Abrimos, aqui estamos.

E o futuro?

O ONOVOLAB é um centro de inovação. É um acelerador de cidades? Estamos acelerando a cidade de São Carlos, gerando emprego. 

Se juntar todas as empresas que estão aqui, elas geram 900 empregos. Isso tem um impacto na cidade, investimentos de dezenas de milhões de reais. Impacta a economia da cidade. 

Assim, estamos abertos a uma aproximação super com o poder público, porque causamos esse impacto na cidade e precisamos dessa ajuda mútua, né? Não precisamos de nada do poder público além de que ele cuide para que a cidade se desenvolva, pois será importante também para ONOVOLAB se desenvolver. 

Recebemos grande executivos de São Paulo aqui no ONOVOLAB e que passam pela cidade. 

Cardinali: E muitas ideias que são criadas aqui que poderiam ser testadas na cidade e que fariam a cidade crescer absurdamente e aparecer mais ainda, né? 

Leandro: A política acaba sendo uma ferramenta extraordinária de transformação então em algum momento. A ideia de acelerar a cidade, de transformar socialmente a cidade, de dar visibilidade, a cidade tem problemas e tem uma concentração de conhecimento absurda aqui para resolver esses problemas. 

Nas universidades, no ONOVOLAB. muita coisa é criada aqui dentro, pensada aqui dentro e que se você colocar em prática na cidade vai melhorá-la. A gente tem que ser a Capital da Tecnologia.

Quais são os próximos passos? Vocês pensam em além de aumentar aqui, ir para outras cidades? Vocês vão recriar o ONOVOLAB em outra cidade? Têm projetos diferentes para outras cidades? Pensam em polos de inovação diferentes para outras cidades? 

Estamos super focados aqui. 

Óbvio que olhamos para outras cidades, outros ecossistemas. Mas como campus a gente está super focado em São Carlos. 

Temos de cumprir a promessa de ser o maior campus de inovação do Brasil, quiçá da América Latina  e posicionar o Brasil a partir de São Carlos como uma referência internacional em inovação.

Então é esse o nosso objetivo. 

A China já ganhou o jogo de industrialização, eles são a indústria do mundo né. O Brasil pode ser esse país referência em inovação, mesmo os Estados Unidos tendo o Vale do Silício, Israel sendo um lugar referência também, aqui temos muita gente boa, competente e criativa. O brasileiro é criativo né? 

Então aqui pode ser um lugar de ponta em inovação. E a gente tem essa missão de transformar a partir de São Carlos o Brasil nesse lugar. 

Então, vamos continuar expandindo o campus, impactando outros ecossistemas a partir de São Carlos. A gente deve lançar no próximo ano um fundo de venture capital, o que é um próximo passo do ONOVOLAB, que é para começar a investir nas startups da própria cidade, para começar a investir em startups locais e também para atrair startups e empreendedores de outras cidades para cá. 

Com dinheiro você consegue fazer isso. O Chile fez isso alguns anos atrás, o programa Startup Chile, aliado à educação. 

As Universidades aqui são as super parceiras do ONOVOLAB, e com isso tentamos ajudar na formação técnica para suprir essa necessidade de talentos que vai ser cada vez maior aqui em São Carlos.

Conclusão

Essa foi a história por trás da locação do Onovolab, junto com a Cardinali em São Carlos.

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